30 de jan. de 2015

Claudia Cardinale e o Destino


 “Caminhando contra o vento/Sem lenço e sem documento/ 
No sol de quase dezembro/Eu vou/ O sol se reparte em crimes/ 
Espaçonaves,  guerrilhas/Em  cardinales  bonitas/Eu vou...

Caetano Veloso
Fragmento da letra de Alegria, Alegria. Música 
de 1967, considerada o início da Tropicália

Visibilidade é Vida

Tendo atuado em cento e quinze filmes até o momento, pode-se concluir que a carreira da atriz italiana Claudia Cardinale é uma das mais longas do cinema. Nasceu na Tunísia em 1938 de pais sicilianos e sua primeira aparição na tela de cinema não passou de uma ponta como doméstica em Goã (Goha, le Simple, direção Jacques Baratier, 1958; lançado em 1959), produção franco-tunisiana filmada no país natal da atriz, com Omar Sharif no papel principal. A seguir, participa de Os Eternos Desconhecidos (I Soliti Ignoti, direção Mario Monicelli), considerado um dos modelos da comédia italiana. Ainda em 1958, Cardinale já será protagonista em Três Estrangeiras em Roma (3 Straniere a Roma, direção Claudio Gora). A atriz começa a ser considerada como a natural sucessora de Sophia Loren, na mesma época em que esta começou a ser mais escalada para o papel de mãe do que de mulher fatal – Loren surgiu nas telas em 1950. Em 1964, o cineasta Luigi Comencini escala Cardinale para um papel de destaque em A Garota de Bube (La Ragazza di Bube). Adaptação do romance homônimo de Carlo Cassola, a temática da Resistência antifascista durante a guerra sugere um ponto de vista neorrealista (1). Possivelmente por conta dessa tendência, Glauber Rocha citaria Claudia Cardinale em 1977 como mais uma das atrizes italianas lançadas pelo neorrealismo (2), apesar de geralmente reconhecer-se que este movimento tenha e exaurido em meados da década anterior. (imagem acima, Era Uma Vez no Oeste, 1968; abaixo, A Garota de Bube, 1964)


Alguém que desde a infância falava muito pouco, Cardinale evitou sua entrada no cinema por um bom tempo – como ela mesma explicou, da mesma forma que não se deveria ceder rapidamente aos galanteios de um apaixonado. Na primavera de 1957, em Tunis, um executivo da indústria cinematográfica italiana ficou impressionado com aquela moça de 19 anos que se apresentava num concurso de beleza. Acreditando no potencial dela para o cinema, o homem ofereceu à vencedora um prêmio que dava direito há uma semana em Veneza com acompanhante – Cardinale venceu e viajou com a mãe. Depois de algum tempo estudando no Centro Sperimentali di Cinematografia, em Roma, Cardinale agradeceu a todos o interesse por ela e decidiu voltar para Tunis – essa não foi uma retirada estratégica, a atriz admitiu que estava muito assustada para continuar naquele mundo completamente novo. Foi quando Franco Cristaldi, o produtor italiano, enviou um funcionário a Tunis que retornou com um contrato assinado por ela para participar de Os Eternos Desconhecidos (3). Na verdade, num sentido bastante específico, Cardinale foi lançada por Cristaldi - considerando que naquela época não existiam na Europa agentes para artistas como nos Estados Unidos. Na Itália, onde o primeiro sindicato de atores surge apenas em 1960, existiam basicamente agentes de imprensa, ao contrário dos agentes norte-americanos (que negociavam contratos) – de fato, veremos um deles em 8 ½ (Otto e Mezzo, 1963), de Federico Fellini, trabalhando para a personagem de Claudia Cardinale.

“Esse cenário vai bem para explicar porque tantos relacionamentos combinando pessoal e profissional floresceram no cinema italiano do pós-guerra entre produtor (masculino) e estrela (feminina). Apesar de variações em seus respectivos papéis, uma lista desse tipo certamente inclui: Carlo Ponti e Sophia Loren; Dino De Laurentiis e Silvana Mangano; Alfredo Guarini e Isa Miranda; Franco Cristaldi e Claudia Cardinale. Na medida em que o status de diretor pode ter facilitado financiamento, um padrão similar de carreira pode ser notado envolvendo diretor (masculino) e estrela (feminina). Isto de modo algum sugere comentário em relação ao potencial da carreira e habilidades de atrizes individuais, apenas quanto à realidade financeira da indústria [cinematográfica] do período (...)” (4) (imagens abaixo, Os Eternos Desconhecidos, 1958)


O sucesso de Cardinale foi construído numa filmografia que se estende do filme de arte à comédia italiana, incluindo também trabalhos em Hollywood. Apesar disso, o ator norte-americano Charles Bronson, com quem Cardinale contracenou em Era Uma Vez no Oeste (C’era una Volta Il West, direção Sergio Leone, 1968), faria um comentário desdenhoso ao afirmar que ela trabalhava bem, mas “não era nenhuma Anne Bancroft” (5) – referência à atriz norte-americana muito conhecida por sua atuação no então recente A Primeira Noite de um Homem (The Graduate, direção Mike Nichols, 1967). Seja como for, Gian Piero Brunetta nos lembra de que durante os anos 1960, especificamente no cenário da indústria do cinema na Itália, além de Claudia Cardinale, Stefania Sandrelli e Monica Vitti, muitas outras jovens atrizes e vedetes buscaram a estrada para o estrelado. Virna Lisi, Catherine Spaak, Sandra Milo e Ornella Muti combinavam beleza e talento, mas não possuíam o “toque de Midas” (6). 

“(...) Desenvolvimentos industriais nos anos 1960 [com o fim do boom econômico do pós-guerra] explicam de certa forma o declínio no nível de aparições de [Loren] nas telas. Em geral, as estrelas italianas perderam a importância na indústria do cinema. Atrizes como Monica Vitti, Claudia Cardinale e Stefania Sandrelli procuraram, com certo grau de sucesso, sustentar uma carreira internacional de destaque. Contudo, em nível nacional, mesmo para essas qualificadas intérpretes as perspectivas eram bastante limitadas (...)” (7) (imagens abaixo, à esquerda, teste no início da carreira; à direita, Rocco e Seus Irmãos, 1960)


Assim como Gina Lollobrigida e Sophia Loren, Cardinale também investiu numa carreira em Hollywood. Contudo, Pauline Small observou que a década de 1960 já não fazia tanta questão de beldades com seios grandes, como na década anterior. Se por um lado o Feminismo estava na moda, por outro os filmes de caráter popular começam a ser desafiados por um cinema mais hermético. Brigitte Bardot perde espaço para a Monica Vitti dos filmes de Michelangelo Antonioni e a Catherine Deneuve dos filmes de Luis Buñuel. Mas apesar da maré de mudanças, no final dos anos 1950 a comédia italiana oferecia às jovens atrizes, como Cardinale e Stefania Sandrelli, papéis muito subordinados aos protagonistas masculinos, o que gerava grandes implicações para a carreira delas. “(...) Precisamente por que as ‘ansiedades da masculinidade’ provaram ser uma característica tão dominante da commedia all’italiana que se seguiu é uma questão explorada por numerosos críticos (...)” (8). Independentemente da capacidade profissional de Cardinale, as mudanças sociais nos anos 60 talvez expliquem a variedade de filões cinematográficos explorados pela atriz. Em sua filmografia encontramos desde papéis em filmes italianos de Luchino Visconti como Rocco e Seus Irmãos (Rocco e i Suoi Fratelli, 1960), O Leopardo (Il Gattopardo, 1963) e Vagas Estrelas da Ursa (Vaghe Stelle dell’Orsa, 1965), passando por clássicos de Federico Fellini como 8 ½ (Otto e Mezzo, 1963), ou Valerio Zurlini, com o antológico A Moça com a Valise (La Ragazza con La Valigia, 1961), até produções norte-americanas mais comerciais como O Mundo do Circo (Circus World, direção Henry Hathaway, 1964) e A Pantera Cor de Rosa (The Pink Panther, direção Blake Edwards, 1963), dentre muitos outros. (imagem abaixo, O Magnífico Traído, 1964)


Com o tempo, Cardinale consegue passar dos
“personagens físicos” e coadjuvantes das classes
baixas  sulistas  aos  papéis  mais  complexos

Na área da comédia italiana, Os Eternos Desconhecidos e Magnífico Traído (Il Magnifico Cornuto, direção Antonio Pietrangeli, 1964) (imagem acima) são alguns dos filmes de destaque nos quais Cardinale começa a se tornar ainda mais visível. No primeiro exemplo, ela é Carmela, irmã de um siciliano obcecado que a mantém trancada em casa para proteger sua honra. No segundo caso, como Maria Grazia, ela é a esposa de um marido ciumento convencido de que está sendo traído – embora tenha começado a ter essa sensação apenas depois que ele próprio traiu a esposa. Embora sempre se possa dizer que a comédia italiana sempre fez o que fez visando uma crítica dos comportamentos, chega um momento que alguns se permitem questionar até que ponto isso não é um álibi para reproduzir mais uma vez justamente aquilo que se pretende supostamente criticar. A própria Monica Vitti, protagonista em muitas comédias, admitiu que esse gênero cinematográfico fosse misógino. De acordo com Patrizia Carrano, as mulheres não existiam nem mesmo na nascente comédia italiana do final dos anos 1960. Citando, dentre outros, Os Eternos Desconhecidos, ela sugeriu que esse filão gira em torno de encontros e amizade entre os homens, enquanto as mulheres são reduzidas a papéis secundários: irmãs presas em casa por irmãos possessivos, ex-esposas indiferentes, adolescentes maliciosas, portadoras de cintos de castidade. Para Carrano, a comédia a beleza à italiana de suas atrizes a serviço de um cinema que abandonou a ironia, entregando-se à farsa. As surras que os homens dão nas mulheres nem passavam como violência, mas como direito (9). De fato, não seria diferente quando o filão do faroeste espaguete emergiu. O próprio cineasta Sergio Leone considerava o personagem feminino totalmente dispensável. Como tantas antes e depois dela, Cardinale não escaparia do clichê. Apesar de tudo, Cardinale se preocupa com sua imagem: 

“Como outras antes dela, Cardinale apareceu numa variedade de produções internacionais e também fez vários filmes em Hollywood. Apesar de ter sido oferecido a ela um contrato exclusivo com a Universal, a atriz só concordou em fazer um filme de cada vez [(durante as filmagens em Milão de Rocco e Seus Irmãos, por exemplo, a atriz também estava trabalhando em Os Delfins, filmado em Ascoli Piceno, bem mais ao sul, na altura de Roma) (10)]. Ela se viu confrontada com exigências para perder peso, clarear seu cabelo e submeter-se à cirurgia plástica. Quando rejeitou isso, lhe foram indicadas massagens, uma dieta e maquiagem corretiva. ‘O objetivo deles, aliás, bastante explícito, era me transformar numa atriz americana, com cachinhos, vestido apertado e peitos achatados... Mas depois de ser paciente com eles por algum tempo, eu disse NÃO, eu recusei’. Como as que vieram antes, ela via essas tentativas como contrárias a sua persona italiana ‘natural’” (11) (imagem abaixo, Os Delfins, 1960)

Estudar é Preciso?


Apenas após iniciar sua carreira no cinema é que Cardinale
foi    estudar    para    ser    atriz.    Mas    não    se    via    como
uma  delas,   somente   alguém   com   certa  sensibilidade (12)

Considerada um modelo de beleza mediterrânea, Cardinale deve seu sucesso inicial ao interesse internacional no cinema de arte italiano a partir da década de 60 do século passado – Monica Vitti é outra atriz italiana cuja carreira no cinema despontou a partir do mesmo interesse. Na opinião Stephen Gundle, ao contrário de Vitti (loura e muito branca, apenas seus lábios grandes e olhar expressivo a aproximam do tipo mediterrâneo), Cardinale é uma representante típica da bella italiana mediterrânea. Sua beleza física seria explorada desde o início por seu descobridor, o produtor italiano Franco Cristaldi (com quem esteve casada entre 1966 e 1975), estratégia que garantiu seu sucesso (certa vez sendo eleita a italiana mais bonita de Tunis, a capital do “quase” país). Com o tempo, Cardinale consegue passar dos “personagens físicos” e coadjuvantes das classes baixas sulistas aos papéis mais complexos. Para Gundle, Cardinale era mais segura do que Loren e Gina Lollobrigida, sentindo-se em casa nos papéis de mulheres burguesas, como em Os Indiferentes (Gli Indifferenti, direção Francesco Maselli, 1964) e Vagas Estrelas da Ursa. De fato, a atriz era vista como maleável, porém com um estilo próprio; voz encorpada, certa qualidade transcendental e ar melancólico (13). Na década de 1980 a atriz encarna a dona de um bordel na Amazônia em Fitzcarraldo (direção Werner Herzog, 1986) e novamente trabalha com Luigi Comencini, desta vez na adaptação de um texto homônimo de Elsa Morante para a televisão abordando mais uma vez a guerra. Em A História (La Storia, 1986), Cardinale é Ida, que foi estuprada por um soldado alemão e teve esse filho – uma história não muito diferente da que marca a biografia da própria atriz. (imagem acima, Os Delfins, I Delfini, 1960)

“Ao filmar o romance de Elsa Morante, Comencini tomou uma decisão ousada e arriscada – escalar Claudia Cardinale para o papel de Ida. Entre as divas reinando nas telas italianas entre os anos 1960 e 1970, talvez Cardinale tenha sido mais bem conhecida por suas atuações como a deslumbrante e extrovertida Angélica em O Leopardo, e como Claudia, a glamorosa musa de Fellini em 8 ½, assim como Ainda, a dançarina esperta do filme que lançou seu estrelato, de Valerio Zurlini, A Moça com a Valise. No âmbito do corpus da cinematografia italiana do Holocausto, já havíamos visto Cardinale ostentar sua persona de tela sexualmente extravagante em Vagas Estrelas da Ursa, de Visconti, onde o erotismo convencional de personagens como Angélica e Claudia revela possuir correntes subterrâneas sombrias e perigosas. Ao escalar Cardinale no papel da deselegante, reprimida e retraída Ida em La Storia, Comencini confronta a atriz com um desafio formidável – persuadir as plateias a deixar de lado memórias de suas encarnações anteriores como deusa do sexo com o dom da atividade. Parte da energia que Cardinale coloca nessa performance é precisamente uma energia de supressão – intuímos o esforço em mascaras sua beleza voluptuosa, a moderação de sua presença pessoal carismática e a negação de seu fascínio sexual. O sucesso de Cardinale em dar vida a Ida se deve, em grande parte, [acredita Millicent Marcus], à forma através da qual a negação pela atriz de sua persona de tela vigorosa e sensual decreta os esforços da personagem para esconder o ‘pecado original’ de sua identidade e proteger a criança que encarna esse segredo” (14) (imagem abaixo, O Belo Antônio, 1960)


Revendo   um   dos   primeiros   filmes   da   atriz,  Pasolini
comentou que os olhos dela focavam apenas nos cantos (15)

Visconti apresentou Cardinale como uma típica beleza do sul da península italiana em Rocco e seus Irmãos e O Leopardo. Gundle explica que, apesar da fama destes dois exemplos, foram apenas participações especiais. Contudo, insiste Gundle, embora Cardinale raramente tenha sido a fonte principal da bilheteria de um filme, entre 1958 e 1963 ela alcançou bastante projeção, atuando em mais de vinte filmes italianos e estrangeiros. Cardinale se destaca no drama (que Gundle classifica como comédia social) O Belo Antônio (Il Bell’Antonio, direção Mauro Bolognini, 1960) (imagem acima), na decadência de Os Delfins (I Delfini, direção Francesco Maselli, 1960), sem esquecer Era uma Vez no Oeste, além de uma variedade de filmes internacionais de aventuras – Christopher Frayling destacou o caráter excepcionalmente único que foi o fato de Leone escalar uma mulher como personagem principal (16); de fato, foi apenas por insistência do cineasta Bernardo Bertolucci, responsável por um dos primeiros tratamentos de Era Uma Vez no Oeste, que Leone passou a considerar uma boa ideia. Gundle ressalta que A Moça com a Valise e A Garota de Bube se revelaram grandes oportunidades para Cardinale. Foi apenas após começar a atuar que ela passou a frequentar o curso de atriz no Centro Sperimentali di Cinematografia. Mas Cardinale não se considera uma atriz, apenas uma mulher com certa sensibilidade. Em 2005, ela comentou: “(...) A melhor parte foi essa transformação contínua. Fui loura, morena, ruiva, cabelo longo, cabelo curto. Eu estava sempre diferente. Isso me ajudou muito, também porque eu conseguia ser outra diante da câmera e, assim que acabava, voltava a ser eu mesma novamente. Isso é força interior, isto é, não misturar a identidade” (17). (imagem abaixo, O Leopardo, 1963)

Leone, Fellini, Visconti


“Em O Leopardo, [Visconti] a encorajou a caminhar
a passos largos, tomando posse do chão com a confiança
suave   porém   forte   que  os  animais  possuem” (18)

O fato é que a atuação instintiva de Cardinale, aliada a sua presença física e repertório emocional, formataram sua identidade na tela, tornando-a interessante aos olhos de muitos cineastas. Eles a viam como alguém maleável e disponível para ser moldada, um corpo no qual poderiam ser inscritos uma variedade de significados. A atriz não se importou quando Sergio Leone a convidou para atuar em Era Uma Vez no Oeste sem lhe dar o roteiro: “Para mim, Sergio Leone encarnava o cinema” (19). Ficou impressionada com a capacidade do cineasta em explicar tudo, a ponto dela conseguir formar uma imagem do filme completo antes mesmo de começar a filmar. Ela chegou a comparar Leone a Visconti em relação à cena em que Jill McBain (a personagem de Cardinale) procura compreender o mistério que encontrou (20). Durante um intervalo das filmagens, Cardinale comenta com Gaetano Carandini: “Rocco e Seus Irmãos é meu décimo quarto filme, e conquanto o papel de Ginetta seja secundário, estou satisfeita por fazê-lo, porque, representando sob a direção de Visconti, que deixa o ator muito a vontade, mas logra ao mesmo tempo fazê-lo representar tal como ele quer, já aprendi muita coisa e penso que posso aprender mais ainda nos próximos dias” (21). Ao justificar a escolha de Cardinale para Era Uma Vez no Oeste, Leone sugeriu que a atriz, em certa medida, correspondia à personagem:

“No começo, Carlo Ponti desejava entrar na produção do filme. Ele me propôs Sophia Loren para o papel. É uma atriz que aprecio muito, mas não a vejo encarnando uma puta de Nova Orleães. Ela só poderia interpretar uma puta napolitana! Eu preferia Claudia Cardinale. É um pé-preto de Tunis [referência a franceses que moravam na parte da África colonizada pela França, embora saibamos que Cardinale é de ascendência italiana]. Ela era admissível num personagem francês. Era muito ligada à realidade americana. Na origem das grandes famílias do Oeste, certamente havia um ancestral vindo de um bordel. Foram essas mulheres que instauraram o nascimento do matriarcado (...)” (22) (imagem abaixo, Era Uma Vez no Oeste, 1968)


(...) Claudia Cardinale representa a água, a promessa
do   Oeste.   Toda   a   história   se   articula   em   torno
dela,   e   no   final   ela   é   a   única  sobrevivente (...)

Sergio   Leone   definindo   o   simbolismo   do   papel   do
personagem de Cardinale em Era Uma Vez no Oeste (23)

Cardinale trabalhou com uma grande variedade de cineastas, tendo sido a única atriz nos anos 1960 a ser escalada tanto por Visconti quanto Federico Fellini, considerados polos opostos em termos de estilo, valores e abordagem em relação ao cinema enquanto atividade comercial. Fellini reservou para Cardinale, em 8 ½, nada menos do que o papel da mulher perfeita, chegando a declarar numa entrevista em 4 de fevereiro de 1963 (o filme seria lançado na Itália no dia 15): “(...) Claudia Cardinale foi tão importante para mim como a fada dos cabelos turquesa foi para Pinóquio (...)” (24). Para alguém como Fellini, acostumado a enaltecer as mulheres publicamente e em seus próprios filmes, indicando Cardinale para mulher ideal, excita a curiosidade saber que a única vez que o cineasta sonhou (ou registrou seu sonho) com a atriz, ela estava acompanhada de seu primeiro marido, Franco Cristaldi. Podemos apenas especular, inclusive não sabemos se Fellini estava a par do sacrifício (que por si só parece roteiro de filme) imposto à Cardinale por Cristaldi para que ela fosse lançada no cinema (esconder uma gravidez fruto de estupro, dar a luz em segredo e apresentar o filho como se fosse seu irmão) (25). No ano seguinte ao sonho de Fellini, o casal viria a se divorciar. No sonho, datado de 15 de novembro de 1974, Fellini reclama com um garçom porque seu apartamento está cheio de mesas. Num canto da sala Cristaldi, de costas fingindo não ver o cineasta (mas Fellini sabe que o viu), está abraçado com Cardinale. No sonho, o apartamento é uma suíte de hotel (26). (imagens abaixo, O Leopardo, 1963)


A futura cineasta Lina Wertmüller foi assistente de Fellini por três meses durante a produção de 8 ½. Ela contou que lhe deram uma fotografia do tamanho de um selo postal e a mandaram por toda a Itália à procura de uma desconhecida que se parecesse com Claudia Cardinale. De acordo com Wertmüller Fellini não acreditava que Cristaldi liberaria sua esposa para trabalhar com ele. Nos anúncios de jornais perguntava-se, “você tem quadris do tamanho certo?”, “você se reconhece nesse tipo de beleza?”. Centenas, dos 12 aos 80 anos, responderam ao chamado. Apesar da descrição física que acompanhava o anúncio, a maioria era completamente diferente. Admirada com o otimismo das concorrentes, Wertmüller e a equipe sentiam-se como um bando de ciganos a procura de uma beleza da Renascença no meio de um zoológico. Quando encontraram alguém, era uma moça considerada perfeita, parecia com a Cardinale mais do que Cardinale. Mas Fellini ainda não sabia da descoberta de Wertmüller, e acabou fazendo o convite a ela, que aceitou imediatamente o papel. Fellini também queria fazer um filme com o personagem Mandrake, o Mágico, com Mastroianni no papel principal e Cardinale como Narda, sua namorada. Mas esse projeto foi abandonado, principalmente depois que o ator insistiu para que Catherine Deneuve, então sua esposa, fizesse o papel de Narda (27) – em Entrevista (Intervista, 1987), na homenagem que presta a Anita Ekberg, finalmente Fellini escala Mastroianni como Mandrake. (imagem abaixo, Cardinale e Brigitte Bardot em As Petroleiras, Les Pétroleuses, 1971)


(...) Cardinale contribuiu para a consolidação da ideia de que a beleza
feminina foi um recurso ilimitado da Itália, que o cinema italiano estava
especialmente    qualificado    para    descobrir    e    apresentar (...)(28)

Nos primeiros minutos de 8 ½, o cineasta Guido, personagem de Mastroianni, sai voando de um engarrafamento direto para seus delírios, mas logo será puxado para a terra por ordem de um homem a cavalo que descobriremos ser agente de imprensa (a quem Guido chama de “super-tarzan”) de Claudia Cardinale (uma das atrizes que Guido deseja incluir em seu filme, mas não envie o roteiro para ela). Posteriormente, Guido está na sala de projeção escolhendo intérpretes quando Cardinale chega pela porta. É a atriz que chega em “carne e osso”, mas é já também a moça da fonte de água medicinal. Mais tarde, Guido procura fazê-la compreender sua personagem, mas ela não entende e recusa o papel. Assim, Fellini criou uma imagem em espelho, um duplo da atriz, assim como Guido é um duplo de si mesmo, personagem de seu próprio filme. Contudo, na hora de elogiar, Cardinale foi enfática ao detalhar a extensão da importância de Visconti, não de Fellini, em sua vida profissional: “Dentre todas as coisas que ele me ensinou encontra-se a consciência de meu corpo, minhas pernas, meus ombros, meus braços, meu queixo e meus olhos. Ele me ensinou a guiar meu corpo e não permitir que eu seja guiada cegamente por ele. [Visconti] devolveu a mim, se posso colocar as coisas dessa maneira, um olhar e um sorriso. Hoje, sou mais do que nunca unida a ele. É [Visconti] que eu continuo a referir sempre que falo, penso, choro ou dou risada em frente a uma câmera” (29). Cardinale chegou a explicitar diferenças entre Visconti e Fellini:

8 ½ foi a primeira vez que utilizei minha própria voz na tela, não tendo sido dublada por alguma outra pessoa depois. Muito antes de começarmos a filmar, Fellini me ligou e me fez falar longamente a respeito de meu personagem. Apenas quando começamos a filmar foi que eu percebi que as coisas que havia dito no telefone se transformaram em meu diálogo... Ele fez tudo parecer como se fosse por acaso. Era absolutamente o oposto de trabalhar com Visconti, aonde tudo foi planejado até o mínimo detalhe” (30) (imagem abaixo, 8 ½, 1963)

O que Pode um Corpo (Coberto)?


Em 8 ½, o personagem de Cardinale, que se
chama  Claudia,  representa a mulher perfeita,
ideal   inacessível  da  beleza   quase   divina

O corpo de Cardinale foi o elemento fundamental de seu encanto individual, mas também italiano. A atriz não parece ter problemas em admitir a importância que suas curvas tiveram na formação de sua identidade na tela: “eu tenho seios atraentes, eu sei; eles sempre foram assim. Eles são uma parte de meu corpo que nunca foi um problema, e eu agradeço à Mãe Natureza – o mérito é todo dela. Foi também a Mãe Natureza que me presenteou com um corpo que, felizmente, não é um tronco de árvore. Sempre tive essa cintura fina, quadris redondos e um busto que me permite vestir qualquer espécie de decote” (31). Contudo, a atriz nunca sucumbiu à quase exigência de nudez na tela, tendência que criticou em 1977 chamando de “forma de prostituição do celuloide” (32) – especialmente em função da tendência patriarcal correspondente que impede e/ou desvaloriza a publicidade ao nu masculino (33). Nessa mesma tela, Cardinale foi muitos tipos de mulher. Nos filmes de Mauro Bolognini ela foi de camponesa do sul da Itália a mulher sedutora e cruel. Mas Cardinale também representou a mulher executiva no universo empresarial, assim como mulheres burguesas e, acima de tudo, o “objeto maravilhoso”. Em Os Carbonários (Nell’anno del Signore, direção Luigi Magni, 1969), a beleza da personagem de Cardinale é elogiada por um cardeal católico que comenta: “que pecado: tão bela, tão judia!” (34). Na opinião de Gundle, havia um padrão na tensão entre a personalidade fechada e agressiva de Cardinale e a convidativa tranquilidade de suas curvas suaves e aparência feminina. Esse caráter “fechado e rebelde” era sua marca, colocando-a em sintonia com os anos 1960, além de conferir-lhe autonomia e complexidade. Cardinale era ao mesmo tempo tradicional e contemporânea (35). (imagens abaixo, Vagas Estrelas da Ursa, 1965)


“Para   escolher   esta   profissão   deves   ser   muito   forte
 por   dentro,   senão   é   canibalismo  -  as   pessoas   te   comem. 
Se    acredita    nos     jornais    quando    te    dizem    elogios   ou
coisas assim [...], você está perdida. Eu não acredito nunca”

Claudia Cardinale (36)

A adaptabilidade de Cardinale aos muitos papéis que representou seria ilustrada por uma entrevista com o escritor Alberto Moravia (1907-1990), baseada na premissa de que ela foi “um objeto”. Ele definiu o movimento do cabelo da atriz como um elemento em perfeita correspondência com “as curvas do corpo dela”. Seu busto era “muito evidente e cheio”, sua pele “sempre marrom, como se estivesse sempre bronzeada pelo sol”, seus olhos “muito escuros, mas muito brilhantes e muito luminosos”. Para o escritor, a boca dela possuía uma expressão dura e cruzada, “um pouco rústica, um pouco rural”. Era a boca que se imaginaria “no ato de morder uma fruta ou cuspir uma semente, ou marcar uma folha de grama”. Quando Cardinale ria, seus olhos “se tornavam duas aberturas escuras, cintilantes, com uma qualidade sulista maliciosa, e intensa”. Mas Gundle explicou que essa coisificação não significava que o escritor estava no controle. Recordando essa entrevista em sua autobiografia, Cardinale não se opôs a ser considerada como um corpo, já que ele era a ferramenta de seu trabalho como atriz. “Eu me diverti um pouquinho fazendo-o se sentir pouco a vontade, por compreendia que minha presença física o envergonhava bastante. Fisicamente, de fato, eu estava muito próxima de seu mundo, de seus personagens femininos, como ele os pensava e os descrevia. De certa forma, eu era parte de seus escritos, uma vez que era, e parecia ser tão cruel, temperamental, argumentativa e também um pouco indiferente a ele” (37).  (imagem abaixo, 8 ½, 1963)


Os fãs italianos se contentavam com uma Cardinale idealizada,
mulher  doce,  de cabelos marrons e beleza de pele escura.  Já  os
estrangeiros   eram   mais  diretos,  queriam  ver  seu  corpo  nu

Jacques Aumont fala de uma derrota do rosto em Visconti, citando como exemplo o papel de Cardinale como Sandra em Vagas Estrelas da Ursa (38). Neste filme, sugeriu Aumont, o plano geral (long shot) faz com que os rostos escapem de qualquer fotogenia, de toda beleza, ou, pelo menos, de toda beleza clássica. A propósito deste filme, Visconti se refere a uma “animalidade” de Cardinale, de seu rosto “etrusco”, em referência ao povo que vivia na península itálica antes do Império Romano surgir. Quanto aos tiros de zooms que, a partir deste filme, Visconti utilizará frequentemente, na verdade seriam, de forma ainda mais brutal, golpes contra a integridade do rosto. Para Jean Collet, “encontramos ao longo de todo o filme esses travellings para frente, sobre o rosto de Claudia Cardinale. Acreditamos nos aproximar de um ser, apenas para descobrir que ele não está lá, que seu corpo é um envelope vazio. Talvez devêssemos ver aqui o segredo da soberba sensualidade que Visconti soube comunicar à sua interprete. A carne está presente, mil vezes mais presente quando o espírito está em outro lugar, quando as pálpebras pesam sobre um olhar perdido” (39).  Na opinião de Aumont, o poder do desconforto gerado pelo filme não está na loucura dos personagens, mas na opacidade, tanto do significado dos rostos de Cardinale e Jean Sorel (cujos personagens são irmãos incestuosos), quanto entre a pele lisa e fosca dela e a pele branca e porosa do marido dela (na cena do quarto, onde ela está seminua).

“O busto desnudo de Sandra é a imagem mais difundida do filme de Luchino Visconti, Vagas Estrelas da Ursa. Na capa dos Cahiers du Cinéma de dezembro de 1965, a jovem mulher está deitada na cama na hora da sesta com seu marido [sentado numa poltrona por trás dela], no palácio de Volterra, enquanto [na revista] Positif do mesmo mês escolheu apresentar uma vista das costas de Sandra nessa mesma cena. A respeito de Claudia Cardinale, Visconti declarou que ‘às vezes apresenta uma impressão estática, mas é para me permitir explorar seu rosto, sua pele, seu olho... seu olhar, seu sorriso’; mas ao mesmo tempo ela tem ‘essa espécie de beleza um pouco pesada, um pouco animal, que me agrada para esse papel’. Portanto, o corpo nu de Sandra remete à estatuária pelo aspecto massivo de seu dorso, por sua ‘beleza um pouco pesada’, mas também por certos traços de seu rosto que evoca as mulheres etruscas, de terracota ou alabastro, das urnas funerárias do museu de Guarnacci” (40) (imagem abaixo, Vagas Estrelas da Ursa, 1965)


Geralmente se comenta a respeito da influência da literatura no cinema, mas no caso de Giuseppe Tomasi di Lampedusa aconteceu o oposto. Publicado postumamente em 1959, o livro aborda a delicada questão da transição da aristocracia feudal siciliana para a nova ordem burguesa. Contudo, de acordo com Gundle, o tema da beleza da mulher não é de forma alguma um elemento secundário no livro. Angélica, a filha do novo rico da cidade, é o símbolo dessa nova ordem. No livro, a beleza dessa mulher será descrita em detalhes por Lampedusa, um interesse muito distante de outros romancistas anteriores que abordaram o tema do Risorgimento. Em nenhum deles a bela pele escura daquela mulher (em contraste com a pele branca da mulher com quem Tancredi originalmente iria se casar) é usada para simbolizar a vitalidade da nova classe. “(...) O escritor não era um admirador de concursos de beleza, todavia, passava as noites de verão assistindo a competição de Miss Itália em Mondello. Ele também era um frequentador de cinema muito interessado. Há poucas dúvidas de que quando Lampedusa compôs a figura de Angélica ele tinha a atrizes como Lollobrigida e Loren em mente. Elas encarnam o deslocamento da aristocracia pelo culto de uma celebridade popular e simbolizam a nova era democrática” (41). Visconti não escolheria nenhuma das duas para o papel, mas a novata de pele escura Claudia Cardinale, que já havia chegado há algum tempo para destronar as duas divas. A atriz não se cansa de enfatizar a qualidade do aprendizado em função do trabalho com o cineasta, vale lembrar que em 1963 (ano de lançamento de O Leopardo) Cardinale completava meros cinco anos em sua carreira:

“(...) Cada piscada, cada gesto era calculado e decidido com o diretor. Ele me dizia coisas muito importantes. Ele me ensinou muita coisa. Por exemplo: ‘Quando entrar, não dê passos muito pequenos. Você tem que tomar posse do espaço’. E me disse outras coisas: ‘Lembre-se que os olhos dizem o que a boca não diz; isto é, o contraste entre o olhar e a boca, as palavras’(...)” (42)

Deve Haver Algum Sentido

Na opinião de Vittorio Spinazzola, Cardinale não desenvolveu um perfil preciso enquanto estrela. Cresceu falando francês e árabe (seu idioma natal não é o italiano) na Tunísia e adorava Brigitte Bardot, figura sem equivalente no cinema italiano dos anos 1950. Embora compartilhasse uma raiz comum, Cardinale sempre foi diferente de Lollobrigida e Loren, sua aura de mistério tem mais a ver com Silvana Mangano. Além disso, sua fotogenia era “muito moderna”, o que chamou atenção dos cineastas italianos do começo dos anos 1960 focados no cinema dito “de arte”. Apesar disso tudo, Cardinale cultivava um mistério ao insistir que seu corpo nunca fosse exposto na tela. Seus vestidos eram longos e ela nunca se despiu para as câmeras, o máximo que vimos foi suas costas. Mas Cardinale teve de conviver com o desejo de seus fãs pela nudez do corpo dela, recebendo cartas com pedidos por fotografias sem roupa. Os estrangeiros eram mais ousados do que os italianos. Estes foram mais impactados pelos primeiros filmes dela, onde atuava como uma mulher idealizada e pura. De acordo com Giovanni Grazzini, que teve acesso às cartas, o público italiano, que ainda é sensível ao culto da Virgem Maria e à obsessão nacional com a maternidade, é mais sensível aos valores de uma feminilidade amorosa e protetora. Apesar de subestimada, a carreira de Cardinale dura até hoje. Enquanto atrizes que emergiram inicialmente escaladas como belezas rurais peitudas emagreceram e lutaram para se encaixar num ideal burguês de refinamento e elegância (equilibrando qualidades nacionais e cosmopolitas), Cardinale facilmente preencheu a lacuna. Mas o preço não foi barato, sua própria maternidade teve de ser escondida do público, e sublimada, de alguma forma. Como ela mesma afirmou num documentário em 2005 (encolhendo os ombros no final, como quem diz “não há mais nada que se possa fazer”, ou “eu não sei”), talvez seja o destino...

“(...) Eu acredito no destino, no sentido de que tudo está escrito. Se você fez alguma coisa é porque devia fazer, e ponto final. É claro que cometi erros. Mas se fiz é porque devia fazer, e foi necessário para que fizesse alguma outra coisa. Eu realmente acredito no destino. Quando as coisas acontecem, era para acontecer. Não tenho remorso. Não tenho... O passado ficou para trás. Eu sempre olho para frente” (43)



Leia também:


Notas:

1. FABRIS, Mariarosaria. O Neo-Realismo Cinematográfico Italiano. São Paulo: Edusp, 1996. P. 42.
2. ROCHA, Glauber. O Século do Cinema. São Paulo: Cosac Naify, 2006. Pp. 259, 392.
3. MORDINI, Stefano. Essere Claudia Cardinale. Documentário, no Brasil recebeu o título Claudia Cardinale - A Diva Italiana. Felix Film, 2005. 
4. SMALL, Pauline. Sophia Loren. Moulding Star. Chicago: University of Chicago Press, 2009. P. 23.
5. FRAYLING, Christopher. Il Était Une Fois en Italie. Les Westerns de Sergio Leone. Paris: Éditions de La Martinière, 2005. Catálogo de exposição. P. 202.
6. BRUNETTA, Gian Piero. The History of Italian Cinema. A guide to Italian film from its origins to the twenty-first century. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 2009. P. 196.
7. SMALL, Pauline. Op. cit., p. 110.
8. Idem, p. 99.
9. CARRANO, Patrizia. Malafemmina. La Donna nel Cinema Italiano. Firenze: Guaraldi Editore S.p.A., 1977. P. 75.
10. CARANCINI, Gaetano. O Cinema e os Milaneses. In: VISCONTI, Luchino. Rocco e Seus Irmãos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1967. P. 298.
11. GUNDLE, Stephen. Bellissima. Feminine Beauty and the Idea of Italy. New Haven/London: Yale University Press, 2007. Pp. 189-190.
12.  Idem, p. 186.
13. Ibidem, pp. 185-188.
14. MARCUS, Millicent. After Fellini. National Cinema in the Postmodern Age. Baltimore (USA): The Johns Hopkins University Press, 2002. Pp. 68-9.
15. GUNDLE, Stephen. Op. cit., p. 188.
16. FRAYLING, Christopher. Op. cit., p. 19.
17. MORDINI, Stefano. Essere Claudia Cardinale. Documentário, op. cit.
18. GUNDLE, Stephen. Op. cit., p. 188.
19. FRAYLING, Christopher. Op. cit., 120.
20. Idem, p. 119.
21. CARANCINI, Gaetano. Procura-se um Substituto. In: VISCONTI, Luchino. Op. cit., p. 334.
22. SIMSOLO, Noël. Conversation Avec Sergio Leone. Paris: Cahiers du Cinéma, 3ª ed., 2006. P. 132.
23. FRAYLING, Christopher. Op. cit., p. 78.
24. CALIL, Carlos Augusto (Org.). Tradução Hildegard Feist. Fellini Visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. P. 146.
25. MORDINI, Stefano. Essere Claudia Cardinale. Documentário, op. cit.
26. BOARINI, Vittorio; KEZICH, Tullio (Eds.). Federico Fellini. The Book of Dreams. New York: Rizzoli, 2008. P. 522.
27. CHANDLER, Charlotte. I, Fellini. New York: Random House, 1995. P. 242, 376-7.
28. GUNDLE, Stephen. Op. cit., p. 186.
29. Idem, p. 188.
30. DEWEY, Donald. Marcello Mastroianni. His Life and Art. New York: Carol Publishing Group, 1993. P. 150.
31. GUNDLE, Stephen. Op. cit., p. 188.
32. CARRANO, Patrizia. Op. cit., p. 146.
33. Idem, p. 147.
34. DI BIAGI, Flaminio. Il Cinema a Roma. Guida alla storia e ai luoghi del cinema nella capitale. Roma: Palombi Editori, 2010. P. 124.
35. GUNDLE, Stephen. Op. cit., pp. 188-190.
36. MORDINI, Stefano. Essere Claudia Cardinale. Documentário, op. cit.
37. GUNDLE, Stephen. Op. cit., pp. 188-190.
38. AUMONT, Jacques. Du Visage au Cinéma. Paris: Cahiers du Cinéma, 1992. Pp. 158-9.
39. Idem, p. 158.
40. LIANDRAT-GUIGUES, Suzanne. Vaghe Stelle dell’Ursa. In: BERGALA, Alain; DÉNIEL, Jacques; LEBOUTTE, Patrick (Orgs). Une Encyclopédie du Nu au Cinéma. Éditions Yellow Now/Studio 43 – MJC/Terre Neuve Dunkerque. 1991. P. 386.
41. GUNDLE, Stephen. Op. cit., p. 167.
42. Comentário de Cardinale no Making of de O Leopardo, no DVD de extras da versão completa restaurada, lançada no Brasil pela distribuidora Versátil Home Vídeo, 2004.
43. MORDINI, Stefano. Essere Claudia Cardinale. Documentário, op. cit.